O que surpreendeu foi a reação de alguns analistas, para os quais as circunstâncias da economia impediram o Banco Central de retomar o ciclo de alta dos juros. Preveem eles que, na próxima reunião da diretoria do BC, em setembro, a Selic provavelmente vai voltar a subir porque a inflação continuará acima do teto da meta. O diagnóstico sobre os preços é correto. Como a inflação de julho do ano passado foi residual (0,03%), a taxa anualizada do corrente mês será, sem dúvida, bem superior aos atuais 6,52%. Trata-se, porém, de mero efeito contábil, pois é sabido que a inflação já está em queda, graças principalmente à acomodação nos preços dos alimentos. Por mais que se especule, a inflação deixou de representar um risco.
Na verdade, o que deve ter entrado em debate na reunião do Copom é a opção entre manter ou baixar a taxa Selic. Discutir um novo aumento seria um absurdo. O que exige prioridade hoje não é o combate à inflação. Preocupa, sim, a forte retração da atividade econômica. Embora sucinto, o comunicado oficial do BC traz esta preocupação: “Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas da inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11% ao ano, sem viés”.
O texto repete integralmente o do encontro anterior, em maio. E mostra que a situação da economia não dá espaço a nova oscilação dos juros. Para os exegetas dos comunicados do Copom, as palavras “neste momento” têm importância transcendental. Significam que na reunião de setembro o quadro poderá mudar da água para o vinho, forçando o BC a apertar o torniquete.
É intrigante. Analistas que só conseguem ver o risco inflacionário e a necessidade de elevar os juros se assemelham aos cavalos bravos que usam antolhos para olhar só para frente e nunca para os lados. Só assim se explica a pouca atenção que eles dão aos demais fatores da conjuntura econômica. A recessão está batendo na porta e já há reflexos no nível de emprego.
Medida pelo Índice de Atividade Econômico do Banco Central ( o IBC-Br), a economia brasileira teve retração de 0,18% no mês de maio. O IBC-BR de abril foi revisado de 0,12% para 0,05%. Mesmo antes da divulgação desses índices, grandes bancos, como Itaú e Bradesco, já haviam refeito suas previsões de crescimento do PIB para este ano. A última pesquisa Focus, com as principais instituições, aponta um modestíssimo avanço de 1,05%.
A produção industrial está em baixa, as famílias pisaram no freio do consumo e a economia não gera empregos na velocidade dos últimos anos. De acordo com os números do Caged do Ministério do Trabalho, o mercado no país registrou em junho a criação de 25.363 postos de trabalho, com queda de 56,9% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foi o pior resultado para um mês de junho desde 1998.
O desempenho do primeiro semestre também foi ruim, com a mais baixa de geração de empregos formais desde 2009. Esse é o cenário com que a diretoria do BC está lidando. E não há sinais de recuperação econômica. Mesmo assim, algumas raposas das finanças insistem em defender a alta dos juros. E jogam lenha na especulação. Mas, pelos dados disponíveis, essa aposta é temerária. A hora é de baixar os juros.